No mês de outubro, São Luís recebeu o IX Encontro Internacional de História Antiga e Medieval do Maranhão, promovido pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), em parceria com a Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O evento trouxe conferências locais e internacionais, buscando fortalecer os estudos antigos e medievais, analisando o passado para compreender o presente.
O encontro trouxe à tona uma questão, afinal, o que nossa atualidade tem a ver com o medievo? Olhando de forma breve, parece que estamos distantes desse período, mas há muitos elementos desse período histórico ainda presente no nosso dia a dia, como explica a professora Adriana Zierer, do departamento de História da UEMA, que também foi coordenadora do Encontro de História Antiga e Medieval.
“A literatura de cordel, que é muito difundida no Nordeste do Brasil, ela bebe na literatura que se desenvolveu no período medieval, que era uma literatura recitada, que se usavam instrumentos musicais, a improvisação, a rima. Essa literatura trovadoresca e lírica desenvolveu a ideia do amor cortês, e no amor cortês um homem vai cortejar uma mulher e, muitas vezes, esse homem vai ficar amanado platonicamente essa mulher. Então, a ideia do amor que nós temos está muito relacionada com a ideia do amor cortês. E dentro dessa ideia, temos o outro amor, o amor romântico que, também surgiu no período medieval. É a ideia do príncipe encantado, que nós mulheres até hoje temos. Que nós vamos encontrar um homem maravilhoso, um príncipe. E de onde vem isso? Da Idade Média”, explica Adriana Zierer.
E uma prova da presença do medieval no Maranhão, que remete ao amor romântico, é o Castelo Dovera, calma, o castelo não é uma construção da Idade Média, mas foi construído em estilo medieval e até hoje encanta moradores e turistas na grande Ilha de São Luís.
O castelo foi construído a pedido de Gabriella Dovera, filha caçula de Cherubino Luigi Dovera, um ex-padre italiano, que se casou com uma maranhense da cidade de Grajaú e fez morada em São Luís, onde criou seis filhos e deixou marcas de seu talento de desenhista, pintor e escultor em várias partes do Maranhão, principalmente na capital. É o fruto e símbolo de uma história de amor incomum, que tem suas origens na Europa na época da Segunda Guerra Mundial.
Da Itália para o Brasil: a vinda de Dovera para o Maranhão
Nascido em 24 de setembro de 1917 em Milão, na Itália, Luigi Dovera iniciou a vida estudiosa dentro da igreja católica e, além de se tornar padre, ele se formou em Filosofia, Teologia, Arquitetura e Escultura.
“Na Itália, principalmente na época da Segunda Guerra Mundial, para ter acesso ao estudo, você tinha que estar dentro de uma instituição que tinha pessoas estudiosas e nessa época era a Igreja Católica. A família sempre foi voltada a essa denominação religiosa e ele, desde criança, iniciou os estudos na Igreja Católica, onde teve cinco formações, entre elas Filosofia, Teologia e, inclusive a de padre”, conta Tathiana Dovera, neta de Luigi.
A forte presença do catolicismo na vida Luigi Dovera, que contribuiu para que ele fosse um homem estudado e voltado para o campo das artes, também são características herdadas da Idade Média. A família Dovera relata que o senhor Luigi teve uma importância histórica durante a Segunda Guerra Mundial, pois, exerceu a função de capelão de guerra, servindo na época do ditador Benito Mussolini, que foi o líder do fascismo italiano, governando o país entre os anos de 1922 e 1943. Em 28 de abril de 1945 Mussolini foi morto, quando tentava fugir da Itália, sendo executado por resistentes antifascistas no norte do país e teve o corpo exibido em praça pública. Nesse período, Dovera, como capelão de guerra, ficou na responsabilidade de proteger o corpo de Mussolini.