Pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) isolaram células-tronco do tecido muscular do frango e as reproduziram em laboratório, gerando, em apenas duas semanas, um pequeno pedaço de carne muscular. “Isolamos o que chamamos de ‘células satélites’, que nada mais são do que células-tronco presentes em todo músculo. Exploramos o potencial dessas células por meio do cultivo, oferecendo a elas os nutrientes necessários para sua proliferação”, explica Érika Jorge, professora do Departamento de Morfologia do ICB.
Segundo ela, todo o processo de “produção” da carne ocorre sem alteração genética das células. “Quando fazemos academia, pensando na hipertrofia muscular, ou quando nos machucamos, os músculos se proliferam por meio de regeneração. O método que desenvolvemos baseia-se nessa lógica, ou seja, usamos a capacidade natural das células musculares para gerar um novo tecido”, explica Jorge.
Como a produção de carne de frango ainda está em âmbito laboratorial, a professora destaca que, caso o estudo evolua para o cultivo de carne em larga escala para consumo, o processo terá que ser feito em biorreatores industriais.
Além do consumo, a tecnologia pode ter outras aplicações, como a geração de tecido humano para enxertia e o uso para o teste de fármacos em animais. No primeiro caso, são necessárias amostras do tecido muscular do paciente que receberá o enxerto.
“Esse método pode ser usado nas situações em que a pessoa sofre um acidente ou lesão tão grande que suas células-tronco residentes não conseguem se regenerar sozinhas. No caso de testes de fármacos, podemos reproduzir as células animais e colocar os medicamentos em contato com elas, poupando o animal dos testes mais invasivos”, explica Jorge.
A pesquisa de cultivo de carne de frango em laboratório é integralmente financiada pelo The Good Food Institute, organização internacional sem fins lucrativos que oferece apoio financeiro a estudos destinados à inovação do setor de proteínas alternativas. O investimento é da ordem de 250 mil dólares. “A primeira carne feita em laboratório foi produzida na Inglaterra, em 2010, e custou cerca de 330 mil dólares. Esse tipo de estudo costuma ser caro, mas pode gerar vários tipos de benefícios para a sociedade”, conclui a professora Erika Jorge.