A oferta restrita no país e a forte demanda da China devem manter os preços da carne bovina brasileira em alta. Esta é a perspectiva para 2021, devido ainda a um cenário de menor disponibilidade de renda dos brasileiros, com desemprego recorde, avanço da pandemia e fim do auxílio emergencial.
Analistas preveem uma nova queda no consumo interno de carne bovina esse ano, levando o acesso à proteína pelos brasileiros a níveis anteriores à década de 1990. O consumo em 2020 foi o menor, desde pelo menos 1996. Dados Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apontam que o consumo brasileiro de carne bovina foi de 29,3 quilos por habitante em 2020, uma queda de 5% em relação aos 30,7 quilos por habitante de 2019, ano em que o consumo já havia recuado 9%.
O patamar de 2020 é o menor da série histórica da Conab, que tem início em 1996. E representa uma redução de 13,5 quilos por habitante, em relação ao ponto máximo da série, de 42,8 quilos por habitante em 2006.
A Conab mede o chamado consumo aparente ou disponibilidade interna per capita, que é o volume produzido, descontadas as exportações e somadas as importações. O número para 2020 é uma estimativa, já que ainda não há dados fechados para a produção pecuária no ano passado.
O levantamento pontua apenas a carne bovina fiscalizada. Mas, considerando a produção informal, a tendência é a mesma. Segundo estimativa da consultoria Agrifatto, levando em conta a produção formal e informal, o consumo de carne bovina teria caído 11% em 2020, para 34 quilos por habitante, contra 38,2 quilos por habitante em 2019.
CARNE DE SEGUNDA: MAIOR ALTA
No ano passado, o preço das carnes subiu 17,97%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), bem acima da alta de 4,52% da inflação em geral. Dos cortes bovinos analisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas o filé mignon teve queda de preço em 2020 – de 6,28%. Já a picanha (17,01%), o contrafilé (12,71%) e a alcatra (5,39%) ficaram mais caros no ano passado.
As carnes de segunda, mais consumidas pela população de baixa renda, cujos rendimentos foram impulsionados pelo auxílio emergencial em 2020, foram as que mais subiram, com alta de 29,74% da costela, aumento de 27,67% do músculo e avanços de 26,79% e 20,75%, respectivamente, do cupim e do acém.
A alta dos preços nos supermercados acompanhou o aumento do boi no campo. A arroba do boi gordo fechou 2020 cotada a R$ 267,15, uma alta de 29% em relação ao final de 2019, segundo o Cepea da Esalq/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’, da Universidade de São Paulo).
FALTA X DEMANDA
Uma combinação de fatores explica a alta no preço do boi, segundo analistas. O mais determinante é o ciclo pecuário. Entre 2016 e 2018, foram abatidas muitas fêmeas no Brasil e com isso, o preço do bezerro subiu muito e diminuiu a oferta de gado pronto para entregar.
Desde o final de 2019, com o preço dos chamados animais de reposição (bezerro, boi magro e garrote) em alta, os produtores passaram a reter as fêmeas nas fazendas para produzir novos animais. A tendência é que a retenção de fêmeas continue ao longo desse ano, já que o preço do bezerro segue nas alturas.
O segundo fator importante é a China. Nos demais mercados compradores de carne brasileira — Egito, Rússia, Chile, Estados Unidos —, houve retração. Ainda, a a alta do dólar nesse impulso às exportações para a China, o que reduziu a oferta de carne no mercado interno, levando à alta de preços.
A participação do país asiático nos embarques brasileiros de carne bovina chegou a 40,9% em 2020, comparado a 25,3% em 2019 e 6,5% em 2015. Com o impulso chinês, a participação das exportações na produção total de carne bovina brasileira chegou a 28% no ano passado, contra 24% em 2019 e 19,3% em 2015.